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Lia Bock

A nudez precisa deixar de ser um tabu

Lia Bock

12/09/2017 04h00

(Foto: Getty Images)

É muito importante lembrar que não são as imagens de corpos nus ou a temática sexo que cancelam exposições ou fecham perfis considerados inadequados em redes sociais, o que faz isso é a caretice moralista. O nu, coitado, é a vítima.

Se eu pudesse fazer um pedido para o universo, hoje ele seria: deixem os corpos livres. Por favor. Esse negócio de que tem que cobrir e se preservar não está com nada. No fundo, é esse puritanismo exagerado, esse excesso de zelo racional, que faz com que o corpo seja tão desejado e porque não dizer, tão deturpado.

Sei que parece um papo meio hippie, mas pensadores de diversas áreas têm batido nesta tecla há um tempo. Cindy Gallop, Zé Celso, Matt Blum e Stephen Gough mandam lembrança. No geral, o raciocínio (muito lógico ao meu ver) diz que é preciso falar sobre o corpo com as crianças, para que elas se conheçam e se respeitem como são; é preciso conversar sobre sexo (educar, trocar, conscientizar), para que a violência sexual diminua; é preciso permitir a postagem dos bicos dos seios no Instagram para que as mulheres saibam que não são as únicas com mamilo invertido.

Ou seja: é preciso mostrar para desmistificar e humanizar.

E eu não tô falando em sensualizar, ao contrário. Estou falando de naturalizar a nudez. Tirá-la desse lugar sexualizado e proibido e trazê-la pra vida cotidiana. Quanto mais a gente esconde, quando mais a gente veta ou diz que é errado, mais misterioso e excitante fica.

Quando lidamos com o corpo de forma mais natural, ninguém nem repara nele. Se ninguém tira o maiô na praia, quando alguém ousar fazê-lo chama atenção. Mas e o que acontece se todo mundo tira? Vira uma coisa normal, certo?

Por isso acho que a questão não é o comprimento da saia ou o tamanho do decote e sim a necessidade de cobrir sob a premissa de que é errado mostrar. Quem falou? Se fosse menos castrado, tenho certeza que o corpo seria menos cobiçado.

Fora o fato de que a preocupação excessiva com o corpo a mostra serve para controlar a mulher e só coloca pimenta na objetificação. Sim, porque o que é proibido é almejado e quando aparece, pronto, vira ferramenta do desejo e alimenta esse circulo bizarro de cobre versus despe.

Claro que mudar o jogo não é uma tarefa fácil. Ainda mais com todas as religiões batendo na tecla do pecado e (vergonha alheia) fazendo campanha pra fechar exposição que a duras penas conseguiu ocupar espaço e mostrar diversidade. Não é fácil mudar o jogo quando a maioria das redes sociais regula quais pedaços de carne podem aparecer. Da onde vieram essas ideias? Porque essas pessoas têm a necessidade de regular sobre o corpo alheio? Ninguém percebe que o proibido só atiça?

Eu daqui sigo sonhando com o dia em que corpos nus serão parte da paisagem e isso não vai abalar ou desrespeitar ninguém.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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