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Lia Bock

Egolatria? Falta de noção? Precisamos falar sobre áudios de Whatsapp!

Lia Bock

08/09/2017 04h00

(Foto: Getty Images)

Preciso começar este texto dizendo que gosto dos áudios do Whatsapp. Sou usuária e vejo uma tremenda vantagem em poder passar a mensagem desejada sem ter que digitar. Adoro poder caminhar e mandar uma mensagem ao mesmo tempo, por exemplo. Fora que no áudio o telefone não transforma "peitinho" em "peidinho", "foda" em "fofa" e "tesudo" em "testudo", né? Quem nunca?

O áudio não só facilita, como tem vida. Ele tem o tom de voz e nunca vem com o fatídico "kkk". Se a pessoa está feliz ela fala com um sorriso de fundo e o interlocutor saca isso sem a necessidade de qualquer emoji. Funciona muito bem para mensagens práticas de trabalho e briefings de emergência, para teretetê com as amigas e aquela troca mais próxima com quem mora longe. Amo escutar a voz de uma amiga que não vejo há 3 anos.

Poderia ser maravilhoso… se as pessoas não enviassem mensagens de 8 minutos. Gente! Áudio é vida, áudio é amor, mas mensagens com mais de 3 minutos é de foder! É o calvário do interlocutor. Puro pânico e desespero. É tipo Youtuber em câmera lenta! É pior que a voz do cara da Net em looping dizendo: "Entendi. Aguarde um instante enquanto localizo seu cadastro".

Fico me perguntando se os adeptos desses monólogos tem algum problema de egolatria ou se esqueceram que é possível discar o número da pessoa e ter a velha e boa conversa ao telefone. Me falem, vocês conhecem alguém que gosta (de verdade) de receber áudio de 8 minutos?

Aliás, quem deveria escolher o limite de tempo dos áudios é a pessoa que vai recebe-los. (Fica a dica Whats!). Pense que lindo seria de pudéssemos optar por receber apenas áudios de 2 minutos em nossos aparelhos. Quando a pessoa clicasse no microfoninho já veria o quanto seu interlocutor aguenta, ou melhor, autoriza, de blablabla na orelha.

Quem gosta, claro, poderia ficar com a opção ilimitada. E não adianta roubar no jogo e mandar 8 mensagens de 1 minuto, porque dá na mesma – se não for pior. E ouso dizer que mensagens picadas, uma atrás da outra, passam um caráter de emergência ao que você quer dizer. E será que é mesmo urgente? Porque, lembre:

Cada enter

que você dá

é um puto

de um blip (pim ou tintin)

na bosta do celular

(ok. Desabafo. Passou. Voltemos)

Os manuais de boas maneiras na paquera também deveriam vir com um artigo: "só mande áudios depois de se certificar que seu crush curte este tipo de comunicação intimista e jamais mande falatórios de mais de 2 minutos para pessoas que você conhece há poucos dias". Por que? Porque é chato!

Deixe as mensagens longas no áudio para aqueles que já te amam de forma incondicional, aquelas pessoas para as quais nada (nem um monólogo monocórdio, nem um vômito no carro) vai ser suficiente para te tachar de inadequado.

De resto é só bom senso mesmo.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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