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Lia Bock

"Quem manda aqui em casa é ela". Essa piadinha soava fofa no século passado

Lia Bock

29/08/2017 04h00

(Foto: Getty Images)

Sabe aquela frase engraçadinha: "Quem manda aqui em casa é a patroa", que o maridão diz aos amigos? Não é legal. Sinto dizer, mas ela é machista. Bem machista. "Mas por que se a frase está justamente conferindo poder supremo à esposa?". Porque confere o poder dentro de casa, porque remete a uma época em que mundo era controlado pelas esposas: da porta para dentro.

Não é à toa que vemos em muitos filmes de época o marido soltar esta frase. Ela era fofa em 1800. Dava um ar de modernidade ao casal.

Pois o tempo passou e essa colocação não tem mais nada de fofa, nem de moderna. Ela é apenas o retrato de um comportamento antiquado e com desequilíbrio entre os gêneros. Posso garantir para vocês, tem muita gente usando essa frase por aí e com risadinha no final.

Ela está na boca de machos alfas, de personagens de novela e até de pais descolex que trocam a fralda dos filhos. Por que? Porque cultura é um troço difícil de mudar, né amores? Hábito não é genético mas passa que nem miopia, calvície e pé torto. A gente nem pensa nisso, mas quando vê, está falando. Uma loucura.

Quando o homem diz que "quem manda em casa é ela" está subentendido que quem manda nas coisas da porta pra fora é ele. Jura? Juro!

Porque se não fosse isso o humaninho poderia dizer: "quem manda na minha vida é ela". Alguns podem argumentar que "casa" aqui tem um significa amplo, como se fosse vida. Bom, então coloca "vida" de uma vez e assume a autoria dessa frase… Lamentável.

Porque dar plenos poderes a outra pessoa nunca foi prova de amor, pode ser sim, sinal de psicopatia amorosa ou só falsidade mesmo.

Além do mais, esse negócio de mandar, seja um no outro ou o outro no um, deveria ter ficado lá no século passado. Estamos aqui numa luta por igualdade, por equilíbrio e se a sua mulher está mandando em você, está errado também. Não deixe, não. Exija seus direitos.

Você, macho oprimido, é quem deve escolher em quem votar, onde ir e que roupa usar. '-)

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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