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Lia Bock

Não importa como acabou. Todo mundo passa pela "solidão do ex"

Lia Bock

20/06/2017 04h00

Foto: Getty Images

Existem três lugares que podemos ocupar depois de uma separação. O de "todo mundo achou melhor assim", o de "foi o outro que quis e eu estou morrendo" e o de "eu quis assim, sinto muito". Mas nenhum deles nos livra da inevitável solidão do ex. Sim, porque chega um momento depois do divórcio em que qualquer que seja o seu papel na história, você se sente sozinho e desamparado.

Não vai dar pra realizar todas das tarefas do dia-a-dia. Não vai dar pra dormir sozinho. Não vai dar pra chorar porque não dá tempo. O amor nunca mais conseguirá atravessar a couraça do meu peito. Ninguém vai me amar daquela maneira e coisas melodramáticas do tipo passarão pela sua cabeça e… não tem ninguém pra te dar um abraço e dizer aquela frase tão inútil quanto motivadora: "vai dar tudo certo, amor".

É uma solidão tão profunda que temos a certeza de que aquele planeta, Melancolia (lembram dele? Filme do Lars von Trier) está de fato se aproximando da Terra e não só acabará com a gente como também com todo o planeta em uma questão de dias. Kirsten Dunst, me dá um abraço?

Lá fora chove, não há o que comer e acabou a pilha do controle remoto. O telefone não toca e se toca é a Tim ou da escola quando esquecemos de buscar as crianças. Estamos sozinhos e o universo está com a luz apagada. Inspira. Espira.

É uma saudade difusa que marca a falta do que não vivemos e das pequenas coisas que preenchiam a rotina sem chamar atenção, como o portão abrindo lá fora porque alguém foi na chuva buscar o jornal – e não fui eu. É a saudade dos momentos de trégua, do que a gente chamava de família e dos silêncios a dois. É a saudade de um conforto que se acomodava em algum lugar entre a aorta e a coronária. É dor.

São raras as almas divorciadas que não passam por esse trecho da história – que em alguns casos pode estar mais para síndrome de Estocolmo do que pra saudade, mas na maioria das vezes é só abstinência mesmo.

É um trecho dolorido, não há dúvida. E como tudo que dói, move. Porque ninguém aguenta ficar sofrendo muito tempo, não é mesmo? Move pra longe, move de volta, move pra outros amores e ardores. Move a nós mesmos rumo aquela placa onde está escrito "ser uma pessoa melhor".

Tá, e enquanto não passa, faz o que? Chora, amor! Chora tudo e deixa lavar alma. Essa história acabou, sua vida não.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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